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Como fazer e receber elogios

Atendendo ao pedido de uma leitora, a discussão de hoje da série sobre Habilidades Sociais é: como fazer e receber elogios? Como já sabem os que acompanham a série, as idéias aqui trazidas são de Vicente Caballo, em seu livro Manual de Avaliação e Treinamento das Habilidades Sociais, publicado em 2006 pela editora SANTOS.

Como fazer elogios?

Elogios podem ser definidos como “comportamentos verbais específicos que ressaltam características positivas de uma pessoa“(Caballo, 2006, p. 254). O autor também cita diversos motivos pelos quais devemos fazer elogios, expressando nosso apreço – quando realmente há um porque de se elogiar. Dentre os motivos citados por Caballo, estão:

1. Os outros desfrutam, ao ouvir expressões positivas, sinceras, sobre como nos sentimos com relação a eles;

2. Fazer elogios ajuda a fortalecer e aprofundar as relações entre as pessoas;

3. Quando fazemos elogios aos demais, é menos provável que se sintam esquecidos ou não apreciados;

4. Nos casos em que precisamos expressar sentimentos negativos ou defender nossos direitos diante de alguém, é menos provável que esta pessoa reaja de maneira inadequada quando, em outras situações, outros aspectos seus foram elogiados;

Gostaria de propor um exercício aos leitores. A maioria de nós não presta atenção quando as pessoas ao nosso redor agem da maneira que nos agradam (p. 255). Quando nos desagradam, no entanto, logo reclamamos. O exercício é o seguinte: a partir de hoje, preste um pouco mais de atenção nas coisas boas que as pessoas fazem para você; e, quando elas fizerem, retribua com um elogio. Vai ver como suas relações irão melhorar.

Porém, antes de sair por aí elogiando, existem alguns aspectos que devem ser levados em consideração. São eles:

1. Os comportamentos que são valorizados por aqueles que nos rodeiam, tendem a se repetir na presença destes. Mas como lembra Caballo (p.255), ignorar o comportamento que nos agrada e punir o que nos desagrada é uma maneira nada eficaz de ensinar ao outro como queremos que ele nos trate.

2. Os elogios, normalmente, podem ser feitos sobre o comportamento, a aparência ou posses da outra pessoa. São mais eficientes quando são a) específicos, isto é, dizendo exatamente o que nos agrada na outra pessoa, e; b) referimo-nos a pessoa pelo nome.

3. Os elogios são mais significativos quando expressos em termos de nossos próprios sentimentos e não em termos absolutos. Ou seja, é melhor dizer “gostei de seu cabelo” do que “seu cabelo é lindo”.

4. Muita gente tem dificuldade em aceitar um elogio diretamente. Talvez por modéstia, ou simplesmente por não saber o que dizer. Alguns autores recomendam que, para evitar este tipo de problema, o elogio seja seguido de alguma pergunta; pois, deste modo, a pessoa pode focar sua atenção em responder a pergunta ao invés de procurar como reagir ao elogio.

Caballo (idem) ainda recomenda que, para que suas expressões positivas sejam mais confiáveis, caso não seja de seu costume elogiar, você comece aos poucos, e vá aumentando a frequência progressivamente. Diz ainda que, no início, é melhor que estes sejam expressos de maneira conservadora, pois expressões repentinas de apreço levantam suspeitas. Recomenda também que não ofereçamos expressões positivas quando queremos algo da outra pessoa. Nesta situação, provavelmente o elogio não será levado a sério e ainda pode pegar mal. Explica também que devolver o elogio que recebemos com outro igual pode soar superficial – como uma obrigação.

Quando elogiamos os demais, é provável que também sejamos elogiados. Para que estas trocas positivas continuem, é importante que saibamos como responder aos elogios.

Como receber elogios?

Se, ao recebermos elogios, nós os negamos (“quem? Eu?”), mudamos o foco da atenção (“eu também gostei de sua roupa”), ou recusamos (“Você gostou mesmo do que falei? Foi feito tão às pressas, nem ficou bom”), é provável que recebamos menos elogios no futuro.

Caballo (p.256.) explica que, muitas vezes, um simples “Obrigado!” ou um “Obrigado, você é muito gentil”  são mais do que suficientes para que quem elogiou sinta-se satisfeito e volta e elogiar no futuro.

Para concluir, gostaria de retomar o exercício proposto lá no início. Não se esqueça de fazer elogios às pessoas que te cercam. Ao fazer isto, procure se lembrar de tudo o que foi discutido neste texto e depois me diga se suas interações sociais não melhoraram.

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Um feliz natal e um 2011 cheio de sucessos

A equipe Psicologia e Ciência deseja a todos os leitores um feliz natal e um 2011 com grandes vitórias em todas as áreas da vida.

Muito trabalho, muita saude e muita alegria é o que desejamos a todos vocês que diretamente ou indiretamente fizeram o Psicologia e Ciência um dos sites mais citados e lidos do Brasil.

Um grande abraço a todos vocês

Equipe Psicologia e Ciência

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Terapia ABA: Humana

Este texto foi originado após uma pergunta feita por alguns pais que escolheram a Terapia ABA como o principal elemento do tratamento dos seus filhos diagnosticados com Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, às vezes chamado de Transtorno do Espectro Autista, às vezes simplesmente autismo. (Terapia ABA?)

Esses pais perguntaram “Por que alguém não escreve um texto mostrando como a Terapia ABA é humana?” É um questionamento que deixa duas perguntas constrangedoras implícitas. Alguém, então, pensa que uma Terapia focada no desenvolvimento integral de seres humanos pode ser outra coisa senão humana? A resposta é “sim” e continua mais triste “e são outros profissionais que dizem isso”. Mas a pergunta implícita mais constrangedora é “esses profissionais, e alguns pais que acreditam neles, acreditam que os aplicadores de Terapia ABA e as famílias que a escolhem aceitam práticas não-humanas para seus filhos…?”

Este texto, pensando nas questões acima, faz uma descrição diferente da Terapia ABA. Não tem a intenção de criticar profissionais ou abordagens. O texto é tão somente para mostrar alguns porquês da Terapia ABA sob o ponto de vista da sua base humanista. Ele é necessário porque, além de terapeutas, os profissionais ABA são cientistas. Este fato maravilhoso teve dois efeitos colaterais imprevisíveis. O primeiro é que os conceitos ABA têm nomes “duros”, ao contrário de suas práticas. O segundo é que os textos explicativos falam muito dos porquês científicos da Terapia ABA e pouco das razões humanas. É tempo de mostrar três delas.

A razão mais humana que justifica a Terapia ABA é: ela funciona, e funciona bem! Isso acontece porque os terapeutas estão o tempo todo debruçados sobre o seu próprio trabalho, avaliando, criticando, melhorando. Não só realizaram centenas de pesquisas para ter a certeza de que ABA funciona, mas também analisam minuciosamente o trabalho realizado com cada um dos seus clientes. Todos os passos do tratamento são registrados e constantemente avaliados, permitindo melhorar tudo que está dando certo e consertar o que está dando errado. É muito difícil falhar, já que os erros são corrigidos. Se um terapeuta ABA não acerta na primeira, tenta a segunda, a terceira, e continua tentando até conseguir: e consegue! O resultado disso é que cada pessoa recebe uma Terapia ABA particular. Os conceitos e princípios básicos são os mesmos para todos, mas a forma de aplicação e o modo de trabalho do terapeuta são especiais e exclusivos para cada um dos clientes.

Os terapeutas ABA sabem que todas as pessoas têm capacidade de aprender. Eles têm razão, pois fazem a aprendizagem acontecer não importa quão difícil o ensino seja. Algumas pessoas, como aquelas diagnosticadas com autismo, precisam de atenção adicional para aprender, mas o fazem plenamente quando motivados. Confiar no potencial de todas as pessoas faz com que os terapeutas ABA se sintam, desde sua formação, responsáveis pela evolução dos seus clientes. Um bom profissional ABA jamais dirá “esta criança não consegue aprender” sobre um cliente com dificuldades para realizar as tarefas propostas; ele dirá “esta criança está certa: meu método de ensino não está adequado e devo modificá-lo”. As intensas auto-exigência e responsabilidade dos terapeutas, derivadas da crença na capacidade do outro, é a segunda razão mais humana que embasa a Terapia ABA.

É comum ouvir críticas de que a Terapia ABA não respeita o ritmo e o tempo das pessoas. A verdade é o oposto disso: respeitar é o que se faz o tempo todo. Respeita-se, principalmente, o direito das pessoas de conhecer o mundo e de se relacionar com seus pares. Para isso, é preciso aprender coisas que nem sempre são prazerosas à primeira vista, mas se mostram incrivelmente interessantes no segundo contato. Sabendo dessa verdade indiscutível, a Terapia ABA usa duas estratégias infalíveis para ensinar. Torna até mesmo o conhecimento mais chato o mais interessante do mundo e evita que os clientes errem. Isso mesmo, eles sempre acertam e são intensamente elogiados toda vez que o fazem. Essas estratégias só são possíveis porque o ritmo e o tempo de cada um são respeitados. Algo deve ficar claro, as pessoas diagnosticadas com autismo são iguais a todos os seres humanos: estão sempre prontas para ir mais longe. Grande parte do esforço dos terapeutas ABA é mostrar a seus clientes o quanto aprender é prazeroso e importante. A terceira razão humana que direciona a Terapia ABA, portanto, é o seu respeito ao direito das pessoas de continuarem aprendendo sobre o mundo e sobre seus pares; cada um no seu ritmo, mas sempre mais.

Não se pode afirmar que a Terapia ABA é mais efetiva para lidar com o Transtorno do Espectro Autista, mas é correto afirmar que ela tem o maior corpo de conhecimento e o maior número de pesquisas mostrando sua eficácia. É uma pena, portanto, que as bases humanas da Terapia ABA descritas acima não sejam conhecidas por todos os pais e profissionais que lidam com indivíduos diagnosticados com autismo. É uma pena que escolhas sejam feitas sem que as terapias sejam devidamente conhecidas. Espera-se que este texto ajude os pais a tomarem decisões sobre o futuro dos seus filhos não com base na falsa ideia de que há terapias humanas e não-humanas, mas sim baseados em suas preferências de método de trabalho e na análise da eficiência de cada um deles.

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Robson Faggiani (robsonfaggiani@gmail.com) é psicólogo e mestre em Psicologia Experimental; especializou-se no atendimento de adultos típicos e de pessoas diagnosticadas com autismo. Atualmente, realiza doutorado na Universidade de São Paulo, onde desenvolve um tutorial gratuito para ensinar Terapia ABA para pais e profissionais. Robson viaja por todo o Brasil dando consultoria para famílias que têm filhos diagnosticados com autismo e treinando equipes para realizar o tratamento baseado em ABA. Escreve também no site Autismo – Psicologia e Ciência.

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TDO – Transtorno Desafiador Opositor

Por: Simone Barbosa Pasquini

Todas as crianças passam por fases difíceis que muitas vezes poderiam ser descritas como “de oposição”, especialmente quando se está cansado, com fome, estressado ou chateado. Quando eles estão assim podem discutir, conversar, desobedecer e desafiar os pais, professores e outros adultos. Há também momentos no desenvolvimento normal que o comportamento de oposição é esperado, como por exemplo entre dois a três anos de idade ou até mesmo na pré-adolescência. Entretanto, o comportamento hostil se torna uma preocupação quando é freqüente e consistente, que se destaca quando comparado com outras crianças da mesma idade e nível de desenvolvimento e quando ela afeta a família da criança, social e a escola.

Para melhor entender, nada melhor como uma boa definição:

O transtorno de oposição (TDO) é um transtorno disruptivo, caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil. A criança ou adolescente discute excessivamente com adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta, incomodam deliberadamente os demais, possuem dificuldade de aceitar regras e perdem facilmente o controle se as coisas não seguem a forma que eles desejam (SERRA-PINHEIRO et al., 2004, p.273).

Em crianças com transtorno desafiador opositor (TDO), geralmente apresentam um padrão contínuo de comportamento não cooperativo, desafiante, desobediente e hostil incluindo resistência a figura de autoridade. O padrão de comportamento pode incluir:

Freqüentes acessos de raiva
Discussões excessivas com adultos, muitas vezes, questionando as regras
Desafio e recusa em cumprir com os pedidos de adultos
Deliberada tentativa de irritar ou perturbar as pessoas
Culpar os outros por seus erros e mau comportamento
Muitas vezes, ser suscetível ou facilmente aborrecido pelos outros
Freqüente raiva e ressentimento
Agressividade contra colegas
Dificuldade em manter amizades
Problemas acadêmicos

Embora não haja nenhuma causa claramente compreendida, acredita-se ser uma combinação de genética, ambiente, incluindo:

Disposição natural de uma criança
Limitações ou atraso no desenvolvimento da capacidade de uma criança no processo de pensamento e sentimento
Falta de fiscalização
Inconsistência ou disciplina severa
Abuso ou negligencia
Desequilíbrio de certas substancias químicas do cérebro, tais como a serotonina

Os sintomas são geralmente vistos em várias configurações, mas são mais perceptíveis em casa ou na escola. Muitos pais relatam que seu filho com TOD estava mais rígido e exigente que os irmão da criança, desde tenra idade.

Este problema é bastante comum, ocorrendo entre 2% e 16% das crianças e adolescente. Em crianças menores é mais comum em meninos, mas durante a adolescência ocorre com freqüência em ambos os sexos. O inicio é geralmente gradual e aumenta a gravidade dos problemas de comportamento ao longo do tempo.

A melhor maneira de tratar um criança com TDO inclui Psicoterapia infantil que abrange técnicas de manejo e modificação do comportamento, utilizando uma abordagem coerente da disciplina e seguir com reforço positivo de comportamentos adequados.

É muito difícil os pais lidarem com estas crianças e adolescentes, por isso é indicado Orientação de Pais para melhor entendê-los além de obterem apoio e compreensão e consequentemente receberem treinamento acerca de habilidades de manejo desta crianças.

O sucesso do tratamento requer empenho e acompanhamento em uma base regular de ambos pais e professores.

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Encoprese Infantil

Por: Simone Barbosa Pasquini

O que é Encoprese Infantil?
Também conhecida como incontinência fecal ou escape fecal, encoprese é o vazamento involuntário das fezes na roupa íntima sem que a criança perceba. Geralmente ocorre em local socialmente inadequado. O diagnóstico ocorre após a idade do treino ao toalete (geralmente com mais de 4 anos). Comumente a encoprese é associada à constipação crônica, ou seja, uma vez a criança se torna constipada, torna-se alvo fácil para adquirir encoprese. É importante ressaltar que há a encoprese não orgânica, adquirida após um período estressor, como por exemplo, um trauma. Embora a encoprese ocorra igualmente em embos os sexos em idade escolar, é importante ressaltar que é três a seis vezes mais comum em meninos.
A encoprese infantil não é uma doença, mas sim um sintoma que pode ter diferentes causas. Para entender encoprese, é importante também entender a constipação.

O que é constipação?
A constipação é um problema muito comum entre as crianças. Uma criança é considerada constipada quando ela tem menos de três evacuações por semana, além da dificuldade em ter o movimento de entranhas, ou quando as fezes são duras e secas. Quando a criança experiência pela primeira vez uma evacuação dolorosa, o reflexo natural é realizar movimentos com seus esfíncteres (válvula muscular que controla a passagem de fezes para fora do ânus) para impedir sentir a dor novamente. Isso cria um ciclo que faz a constipação continuar e tornar-se pior,  e com isso ocorre uma grande impactação fecal.

E como começa a Encoprese?
Quando ocorre a impactação da grande massa de fezes, inicia o vazamento ao redor, sem a criança perceber ou ser capaz de controlar esse vazamento, pois os nervos não estão mais enviando os sinais que regulam a defecação. 

Para ocorrer essa impactação, é necessário entendermos melhor porque ocorre o primeiro cocô duro? O que será que aconteceu?
Há diversas formas de responder esta questão como dietas inadequadas, doenças, estilo de vida, diminuição da ingestão de líquido, medo do vaso sanitário durante o ensino do toalete, retirada da fralda precoce, acesso limitado ao banheiro, eventos estressantes da vida, transtorno desafiador opositor, etc…

Seja qual for à causa, uma vez que a criança começa a segurar o cocô, este se acumula no cólon e começa um ciclo vicioso. Há casos em que a encoprese não ocorre em decorrência da constipação, é necessário um medo extremo, um trauma que desencadeia a encoprese. 

O que é importante saber em relação à Encoprese?
É importante lembrar que o vazamento de fezes ocorre de forma involuntária, à criança não controla os acidentes que normalmente acontecem. Muitas pessoas acreditam erroneamente que é uma questão de simples falta de autocontrole. Familiares acabam punindo a criança de diferentes formas como meio de conter o que eles mesmos consideram um ato proposital da criança.

Qual a conseqüência da Encoprese nas crianças?
Há efeitos significativos no desenvolvimento da criança encoprética, por seus efeitos negativos sobre a convivência dela com outras crianças e com a própria família. Muitas crianças acabam sentindo-se envergonhadas perante os outros e consequentemente elas se isolam, ficam irritadas com facilidade e ocorre a baixa auto-estima. As idas a escola são humilhantes e as atividades extras vão se restringindo cada vez mais. A intervenção de um psicólogo é necessária, pois toda a situação de um encoprético causa problemas emocionais e comportamentais.
Os pais muitas vezes são frustrados pelo fato de que seu filho parece não se incomodar com estes acidentes, que ocorrem durante as horas de vigília ou em momentos de estresse. A negação pode ser uma razão para a indiferença da criança, pois elas simplesmente não conseguem enfrentar a vergonha e a culpa associada com a condição (alguns até tentam esconder as suas cuecas sujas de seus pais). Outra razão pode ser mais científica: Porque o cérebro finalmente se acostuma com o cheiro de fezes, a criança pode não notar o odor.

O que é importante no tratamento da encoprese?

A palavra chave é Paciência. O sucesso do tratamento de encoprese depende do apoio que criança recebe. Os pais devem ser solidários e se abster de críticas ou desânimo. Dar amor, apoio e garantir a seu filho que ele não é o único no mundo com este problema. Com o tempo, compreensão e um tratamento adequado, o seu filho pode superar encoprese.

Saiba que a maioria das crianças responde ao tratamento.

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Sindrome de Otelo – O Ciume patológico

Por : Marcelo C. Souza

Otelo, o mouro de Veneza é personagem principal do romance do famoso britânico Willian Shakespeare, que conta a história de um homem que ama demais a esposa e que convencido de sua infidelidade, acaba a matando para logo após descobrir a inocência dela.

O conto de Shakespeare traça muitos paralelos com a nossa vida cotidiana. Nenhum relacionamento esta livre das desconfianças e das tentações que o mundo oferece, ainda mais nos dias de hoje em que o apelo sexual esta em cada esquina. Porem existem pessoas que passam dos limites nas desconfianças e qualquer indicio, por mais absurdo que seja, é uma prova cabal da traição do parceiro. De fato, não são todos os relacionamentos que terminam em morte como o caso de Otelo, mas o crime passional, tem aumentado, vemos na TV vários casos de assassinatos ligados a términos de relacionamentos e traições.

Vamos falar um pouco do ciúme patológico, algo que movimenta grande parte dos casos de procura por terapia.

O ciúme patológico é definido como a persistente idéia de que o parceiro (a) possui outros relacionamentos, não importando qual seja a realidade da relação amorosa, pois a sensação é que a relação afetiva esta em constante ataque por parte de outras pessoas. Nesse sentido, a pessoa com ciúme patológico interpreta tudo no ambiente como uma prova da infidelidade do parceiro, já que a todo momento o sentimento é de que o relacionamento corre perigo.

Dizem que o ciúme é algo natural e esperado de qualquer relacionamento, afinal, quem gosta cuida e quer proteger o relacionamento e a pessoa amada. Não existe uma escala que nos diz quando o ciúme passa de “normal” para patológico, mas podemos perceber que o ciúme patológico causa intenso sofrimento para o casal, para o ciumento por que tudo vira uma prova clara da traição e para o parceiro que precisa se submeter a questionários, brigas, controles de todas as formas e todos os passos que dá e em alguns casos pode ter sua integridade física ameaçada.

A Síndrome de Otelo é diagnosticada quando existem sintomas e sinais específicos e em conjunto. Podemos dizer que as principais características dessa síndrome inclui: ter o controle do pessoa amada, checar contas de telefone, ler e-mails particulares, vasculhar bolsos, agendas, contas de cartão de crédito, contratar detetives, seguir a pessoa, telefonemas constantes, implicar com roupas que o outro use, implicar com amigos (as) e até mesmo parentes, não permitir que o parceiro saia desacompanhado, enfim… os exemplos são muitos.

É importante ressaltar que a pessoa que sofre do ciúme patológico fundamenta suas ações em distorções e falsas interpretações da realidade. Quando o ciúme ameaça a integridade do relacionamento e qualquer estimulo é interpretado como uma prova de traição, por mais irracional e absurdo que sejam os argumentos usados pelo ciumento, então é preciso ficar atento.

Quando existe agressão física e ameaças de diversas ordens, o relacionamento não tem mais chances de se tornar saudável sem a ajuda profissional de um terapeuta treinado para tal.

Quem se envolve com um ciumento patológico vive em constante ameaça, cobranças, brigas e precisa se justificar de tudo que faz a todo o momento. É um tipo de relacionamento penoso e desgastante, transtornos de ansiedade e depressão costumam se instalar na vitima do ciumento.

A vitima perde a identidade e a paz ( isso quando não perde a vida ), podemos citar o caso de Eloá Pimentel que foi mantida refém por 68 horas e morta por Lindenberg Alves em 2008, enfim, existem muitos exemplos do ciúme patológico que terminaram com a morte do ciumento ou da vitima do ciumento.

As terapias de abordagem comportamental ( Analise do Comportamento ) e Cognitivo Comportamental ( TCC ) são as mais indicadas possuindo estudos e pesquisas de alto grau de evidencia cientifica, atestando que de fato funcionam.

O ciúme patológico ou Síndrome de Otelo é um problema que existe há séculos e que afeta milhões de pessoas no mundo todo. É um problema tratável e com grandes possibilidades de melhora quando realizado por um profissional qualificado e devidamente treinado no manejo de situações de conflito causadas pelo ciúme patológico.

Aguardem os proximos textos sobre o tema.

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Por que as pessoas sentem e praticam homofobia?


Clique para ver a cena no YouTube

Dave é um adolescente. Popular, Dave joga futebol no time de primeira linha da escola, anda com os figurões, é forte, alto e faz sucesso com as garotas. Ele também é durão. Persegue e aterroriza Kurt em todas as oportunidades. Tanto que Kurt cogitou mudar de escola. Kurt é gay e, por sorte, encontrou um cara apaixonante que lhe deu forças para encarar Dave. Em uma situação de bullyng já corriqueira, Kurt decide revidar e fala umas boas verdades. No meio da discussão Dave surpreende Kurt com um beijo. Mas Kurt rejeita o segundo beijo e Dave se vai confuso.

Essa é provavelmente a cena mais surpreendente do seriado Glee, que foi ao ar na última terça feira (09/11/2010), às 21h no canal americano Fox. O seriado é comprometido com a filosofia de educação inclusiva e em seu elenco principal há judeus, negros, latinos e orientais – minorias americanas. O seriado conta com atores com síndrome de down e o autor faz questão de ter personagens gays interpretados por atores heterossexuais e vice versa.

Mas a questão principal aqui é entender porque uma pessoa age como o personagem Dave. Qual a razão para alguém odiar e a motivação para coagir homossexuais? Deve haver várias razões e cada pessoa se relaciona de forma única com o mundo, mas algumas regularidades podem ser observadas em fenômenos comportamentais e, partido dessa perspectiva, propõe-se este post.

Um estudo realizado por psicólogos da Universidade de Geórgia, EUA, em 1996, comparou homens universitários em relação a seus sentimentos direcionados aos gays e sua excitação ao assistirem vídeos de sexo gay masculino. Os jovens primeiramente responderam a um questionário que dividiu a amostra entre homofóbicos e não homofóbicos. Foram classificados homofóbicos aqueles que responderam dizendo possuir sentimentos de aversão e interesse em coagir pessoas gays. Foram classificados como não homofóbicos aqueles que responderam não se interessar ou se incomodar pela orientação sexual das outras pessoas.

Depois a resposta sexual dos participantes foi medida enquanto eles assistiam a vídeos de sexo. Os participantes classificados como homofóbicos apresentaram resposta de excitação sexual ao assistirem filmes de sexo gay masculino, enquanto os não homofóbicos apresentaram excitação apenas diante de vídeos de sexo heterossexual ou homossexual feminino. Estes resultados sugerem uma questão intrigante: porque pessoas homofóbicas ficam excitadas ao assistirem sexo gay?

Murray Sidman, em seu livro Coerção e suas Implicações, publicado no Brasil pela Editorial Psy em 1989, faz uma análise comportamental dos mecanismos de defesa primeiramente apresentados por Sigmund Freud. Sidman propõe que os mecanismos de defesa são uma resposta natural das pessoas à coerção e apresenta a formação reativa como um desses mecanismos.

Para Sidman, a formação reativa tem a função de remover uma fonte de controle aversivo (veja mais aqui) e é caracterizada pela exibição de um comportamento oposto àquele que foi punido. Ela surge do conflito entre consequências positivamente reforçadoras e aversivas.

Dessa forma, fica fácil entender que uma pessoa, ao expressar suas primeiras tendências de interesse pelo mesmo sexo e, sendo fortemente reprimida e coagida por esta expressão, passaria a demonstrar uma tendência oposta ao comportamento que foi punido. “Quando somos fortemente impelidos em direção a uma ação que inevitavelmente trará um choque, uma maneira efetiva de nos impedirmos de fazê-lo é fazer o oposto” (p. 182). É o que acontece com nosso personagem Dave. Ao perseguir Kurt, ele provavelmente evita as consequências aversivas de expressar sua própria tendência homossexual. Evita essas consequências, podemos especular, por já ter sido exposto a elas – exibindo tendências ou o próprio comportamento.

A questão que se impõe a esta análise já foi adiantada por Sidman. “A formação reativa pode limitar nossas opções, impedindo-nos de nos expor a oportunidades de experiência e crescimento. Aqueles que aprenderam a reagir ao amor com fuga, a responder à generosidade com desconfiança ou a considerar a sexualidade impura, estão limitando a qualidade e a amplitude de suas vidas tão efetivamente quanto se estivessem fisicamente restringidos” (p. 183). Uma vez que somos pessoas adultas, muitos reforçadores já foram condicionados em nossa história de vida e dificilmente deixarão de exercer controle sobre nosso comportamento. Evitar o acesso a estes reforçadores representa, como disse Sidman, limitar nossas opções para sermos felizes. Estar junto de outro homem seria bom para Dave, reforçaria seus comportamentos. Porém também poderia produzir estimulação aversiva – o que explica sua formação reativa.

Uma sociedade menos coercitiva seria o terreno fértil para a expressão de comportamento positivamente reforçado e diminuição de comportamentos mantidos por esquiva. Em um mundo onde os Daves não são punidos, eles não precisam reproduzir sua homofobia contra aqueles que expressam sua homossexualidade livremente.

 

Sugestões de leitura:

Sidman, M. (1989). Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy.

Adams, H. E., Wright Jr., L. W., Lohr, B. A. (1996). Is Homophobia associated with homosexual arousal? Journal of abnormal psychology, v. 105, n. 3, p. 440-445.

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A abordagem teórica nos escolhe ou nós a escolhemos???

Por : Marcelo C. Souza

Essa é uma pergunta muito comum dentro da Psicologia, principalmente para recém formados que bombardeados por tantas abordagens e informações contraditórias e desencontradas, acabam ficando frente a frente com um grande dilema: Que orientação teórica eu vou seguir??

É muito complicado se decidir por uma abordagem teórica que não se conhece. Muitos psicólogos defendem que a abordagem teórica é que escolhe o psicólogo e não o contrario. Eu particularmente acho isso absurdo, tendo em vista que a escolha da abordagem teórica deve se basear em dados racionais e reais e não em emoção. O próprio código de defesa do consumidor diz claramente que todos os serviços oferecidos ao consumidor deve se basear em qualidade e evidencias concretas de eficiência.

Muitas abordagens teóricas não possuem um corpo epistemológico coerente ( pra não dizer outra coisa ) e dizem abertamente que não se preocupam com a ciência, e o pior, dizem fazer seu próprio modo de ciência, onde podem “provar” que suas praticas se sustentam. O grande problema é que suas praticas possuem baixíssimograu de evidencia e quando colocadas em prova pelo método cientifico falham. Isso se aplica perfeitamente as terapias holísticas e outros métodos esotéricos. Na verdade a medicina alternativa é um conjunto de praticas que nunca foram testadas cientificamente ou que quando colocados em testes falharam completamente.

Dentro da psicologia também temos muitas abordagens que não podem ser medidas e validadas através do método cientifico tradicional. Pra ser sincero existem pouquíssimas abordagens teóricas que se preocupam em validar suas praticas em exaustivos testes em laboratório ou em estudos clínicos. Dentre as abordagens que escolheram a ciência como base, estão a TCC ( Terapia CognitivoComportamental ) e a AC ( Analise do Comportamento ).

Eu escolhi a Analise do Comportamento como abordagem teórica por possuir um corpo epistemológico coerente e possuir uma base que valida suas praticas com rigor cientifico. A incansável busca por métodos mais eficientes de tratamento, a busca incessantes em desenvolver melhores formas de intervenção e a constante reciclagem e validação dos seus métodos me encantaram.

Acredito que a escolha da abordagem deve ser feita por métodos racionais, oprofissional deve se perguntar que tipo de trabalho ele quer fazer com seu cliente, e com isso podemos formular a pergunta: “Quero dar o melhor para o meu cliente com técnicas e procedimentos validados por inúmeros trabalhos científicos dentro de um rigor grande ou devo dar um tratamento de qualquer coisa, apenas por que eu achei interessante o modo de pensar de um teórico X ou Y ?”

A resposta pode parecer obvia, mas de fato muitos recém formados e atéprofissionais não conseguem responder a essa pergunta.

A verdade é que a psicologia precisa mudar urgentemente a mentalidade dos seusprofissionais, escolher uma abordagem apenas por se identificar com o pensamento do teórico ou dizer que a abordagem foi escolhida por simples ponto de vista convergente, é muito grave e quem vai sofrer com isso é o futuro cliente.

Para terminar esse breve texto, gostaria de citar uma frase de um colega de profissão que sempre se faz presente nesse tipo de debate no mundo da Psicologia, ele diz :

” A escolha da teoria deveria se dar por critérios racionais. O contrário, muito louvado em alguns nichos da Psicologia, é uma falha da formação, uma herança romântica nem um pouco bem-vinda a não ser que a estética lhe interesse mais que a ética…” ( R, Junio. 2010 )

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Análise Funcional da Cognição:Aplicações em Psicologia Clínica

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Disciplina de Pós-Graduação

PSC 5914 – Análise Funcional da Cognição: Aplicações em Psicologia Clínica.

Profa. Dr. Carmem Luciano
Professora Efetiva e Diretora do Grupo de Pesquisa em Análise Experimental e Aplicada do Comportamento da Universidad de Almería – España.

 

PROGRAMA

OBJETIVOS:

Desenvolver uma análise crítica das bases conceituais e empíricas que sustentam as aplicações dos métodos clínicos da Terapia de Aceitação e Compromisso. Discorrer sobre as concepções de comportamento e cognição presentes no Behaviorismo Radical e no Contextualismo Funcional. Apresentar aspectos centrais da Teoria dos Quadros Relacionais, sua análise da linguagem e as respectivas evidências empíricas. Discutir sobre as aplicações clínicas em termos de Evitação experiencial destrutiva e analisar os métodos clínicos próprios da ACT.

JUSTIFICATIVA:

Os métodos clínicos da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) vêm apresentando resultados bastante significativos no tratamento de problemas psicológicos. Esta terapia figura no cenário das terapias comportamentais de última geração, as chamadas terapias contextuais. Seu desenvolvimento tem início recente na história de uma prática clínica sustentada pelo Behaviorismo Radical e contextualismo funcional. Assim sendo, considera-se relevante uma análise crítica das bases conceituais e empíricas que sustentam a prática clínica da ACT.

CONTEÚDO (EMENTA):

  • Conceituação de comportamento e cognição humana com base no behaviorismo radical e contextualismo funcional.
  • Análise do comportamento com base no conceito de contingências.
  • Análise da linguagem em termos de comportamento relacional.
  • A Teoria dos Quadros Relacionais.
  • Evidências experimentais.
  • Aplicações no desenvolvimento da linguagem
  • Aplicações na conceituação dos problemas psicológicos em termos de Evitação Experiencial Destrutiva.
  • Análise dos métodos clínicos da Terapia de Aceitação e compromisso.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

  • Hayes, S.C., Barnes-Holmes, D., & Roche, B. (2001). Relational Frame Theory. Plenum. New York
  • Luciano, C., Valdivia, S. Cabello, F., & Hernández, M. (2009). Developing self-directed rues. In R.A. Rehfeldt, & Y. Barnes-Holmes (Eds). Derived Relational Responding. Applications for learners with autism and other developmental disabilities. Oakland, CA: New Harbinger.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

  • Wilson, K., & Luciano, C. (2002). Terapia de Aceptación y Compromiso. Pirámide: Madrid
  • Hayes, S., Stroshal, K., & Wilson, K. (1999). Acceptance and Commitment Therapy. Plenum Press. Guilford. NY
  • Skinner, B. F. (1974). Ciência e comportamento humano.  Tradução por João Cláudio Todorov & Rodolpho Azzi. São Paulo: Edart (Trabalho original publicado em 1953).

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO:

Será solicitado aos alunos uma síntese compreensiva e crítica dos temas abordados.

Data: 27/09/10 – Horário: das 8h às 13h e das 14 às 18h.

Local: Sala 25 (manhã) e 27 (tarde) do Bloco B no Instituto de Psicologia – USP.

Inscrições até 24 de setembro.

Aluno regulares e especiais: Secretaria de Pós-Graduação.

Alunos ouvintes: comparecer no dia da aula.

Informações somente por e-mail: pospsc@usp.br ou telefone: (11) 3091-4910.

* A disciplina será proferida em Espanhol.
* Certificado de presença aos participantes.

Organização: Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica do IPUSP.

Prof. Responsável: Sonia Meyer.

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Segure a onda

A reportagem “Segure a onda: autocontrole depende de uma recompensa futura e até mesmo de sua genética.”, escrita por Felipe Pontes, foi realizada com a minha ajuda, em entrevista concedida via telefone.

O jornalista me procurou após ler a o post Autocontrole: você pode ter?, publicado aqui no site Psicologia e Ciência em outubro do ano passado.

Foi muito interessante ver o alcance de nosso site e gostaria de divulgar também o trabalho de Pontes, incentivando os seguidores do PeC a ler a matéria na Galileu.

Gostaria também de deixar uma sugestão de leitura,  indicada pela minha orientadora quando lhe mostrei a matéria. Segue a referência:

Farmer, R. F. (2005).  Temperament, Reward and Punishment Sensitivity, and Clinical Disorders: Implications for Behavioral Case Formulation and Therapy. IJBCT, 1.(1), p. 561.

Grande obrigado a todos!

Rodrigo.

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