Por Marcelo C. Souza
Universidade de São Paulo – USP
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As teorias da aprendizagem estão longe de chegar a um consenso. À primeira vista, a definição do que é ensino e aprendizagem parece ser simples, mas existem profundas diferenças entre epistemologias das abordagens da psicologia e da pedagogia. Desde o século 19 suas definições tem sofrido muitas alterações e de fato, tem se dado ênfase as teorias baseadas em evidencias como o Behaviorismo seguido pelo  Construtivismo e o Cognitivismo.
A luz do Behaviorismo Radical podemos dizer que todos os fenômenos humanos podem e devem ser entendidos como comportamentos, portanto, processos de ensino e aprendizagem também devem ser vistos como uma série de comportamentos que entrelaçados, geram uma conseqüência especifica que pode ser compreendida como a modelagem de novos repertórios comportamentais pelo educador em direção ao aluno que o absorve em forma de aprendizagem.
Dentro da psicologia de forma geral, existem diversas teorias e formas de se entender o processo de ensino e aprendizagem. Basicamente as explicações se devem mais a epistemologia da escola psicológica que a quer definir do que a leis gerais e amplas de entendimento aceitas por uma classe de profissionais, seja da psicologia, seja da pedagogia. Skinner define aprendizagem em seu artigo Are the Theories of Learning Necessary? (1950) como uma mudança na probabilidade de uma resposta especifica.Diferentemente de algumas escolas da psicologia, Skinner não apenas considera o aparelho biológico do estudante, mas também considera que alem do aparato biológico (Variável Filogenética), existe um ambiente externo ao organismo que em determinadas condições, sejam elas planejadas ou não, ajudam ou atrapalham na instalação de novos repertórios e mudança nas taxas de resposta emitidas ( Variável Ontogenética e Variável Cultural ). Skinner então chamou a interação entre a variável filogenética, ontogenética e cultural de NÃveis de Seleção do Comportamento.
A noção de interação constante entre organismo e ambiente está presente na obra de Skinner fazendo com que a sua teoria de aprendizagem se torne essencialmente interacionista e não ambientalista, e derruba criticas que apenas é baseada em eventos observáveis e com a noção de homem que apenas responde passivamente a estÃmulos como erroneamente tem se pregado em clara confusão entre a Teoria Behaviorista Metodológica de J. B. Watson (1878-1958) e o Behaviorismo Radical de B. F. Skinner (1904-1990).
A abordagem Skineriana como citado por HUBNER (pg 48) defende a escola como instituição facilitadora do ensino, pois para existir comportamento é necessário uma interação entre organismo e ambiente e dessa interação certos repertórios vão ser selecionados pelas suas conseqüências. Para que haja uma maior eficiência na transmissão de repertórios comportamentais, a escola pode fazer a modelagem dos mesmos sem que seja essencialmente necessária a seleção por conseqüências, tornando o ensino mais rápido e efetivo.
O ensino é importante do ponto de vista cultural, pois o educador passa o conhecimento que já aprendeu e que foi passado de individuo para individuo historicamente de alguém que em algum momento não foi ensinado, portanto não precisando mais sofrer as limitações e dificuldades enfrentadas pelo primeiro organismo a ter seu repertório selecionado.O processo de transmissão de conhecimento já não depende mais da tentativa e erro e da seleção por conseqüências, potencializando, portanto a instalação de repertórios comportamentais. Skinner diz que ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem, no sentido de que quem é ensinado aprende mais rapidamente do que quem não é (1972, p. 4). Segundo HÜBNER, (1998) as contingências predominantes nas escolas, de acordo com a perspectiva comportamental (ou behaviorista) vêm afastando o aluno da sala de aula, no sentido de punir muito mais do que reforçar positivamente o que o aluno faz na direção do saber.
Essas contingências predominantes como nos diz HUBNER (1998) se referem a praticas de punição com baixa freqüência de uso de reforçadores positivos na pratica dos educadores. Tal uso indiscriminado de punição causa como efeito colateral uma evasão escolar cada vez mais alta com notável aversão ao ambiente escolar com alunos se utilizando de frases como “aprender é pouco legal, as aulas são chatas, os colegas não gostam de aprender etc…†como apontam CALDAS, 2000 e HÃœBNER, 1998. A Análise do Comportamento apoiada pela sua filosofia da ciência conhecida como behaviorismo Radical tem em seu corpo de conhecimento estratégias de ensino poderosas que podem de fato contribuir com o processo de aprendizagem.
Um dos maiores expoentes da psicologia da aprendizagem, Fred Keller propõe um ensino individualizado defendendo com isso que problemas comumente vistos dentro das escolas como a coerção e a punição sejam minimizados ou mesmo sanados. No contexto educacional, o controle aversivo pode desencadear tentativas de buscar alivio ou escapar desses estÃmulos que causam sofrimento (Skinner, 1990; Sidman, 1995; Oliveira, 1998). O contra controle aparece na tentativa de evitar e eliminar a estimulação aversiva e o comportamento de não aprender aparece, seja por fuga-esquiva, seja por agressão direta ao professor. Para Skinner o professor é o responsável pelo ensino de repertórios comportamentais de forma mais rápida, eficiente e que se não for por modelagem direta, de certo não seriam aprendidos de outra forma. Segundo a abordagem comportamental o método mais eficiente de ensino é simplesmente arranjar contingências de reforço para o comportamento de aprender. Segundo os defensores dessa abordagem, o que falta nas escolas é o reforço positivo.
Criando-se condições mais favoráveis de ensino baseadas em reforço positivo e não em coerção, a tendência é que o processo de aprendizagem se torne mais efetivo por parte do aluno e mais prazeroso do ponto de vista do educador criando então um ambiente propicio para o processo ensino-aprendizagem adequado. Segundo Skinner ( citado por Milhollan & Forisha; 1972) o papel principal da escola seria de acelerar o processo de transmissão de conhecimento modelando grande quantidade de respostas colocando o comportamento de aprender sobre numerosos controles de estÃmulos. O educador baseado em uma estratégia comportamental tem a sua disposição ferramentas importantes capazes de aumentar a probabilidade do comportamento de aprender arranjando contingências adequadas ao ensino.
A análise do comportamento tem estabelecido leis gerais do comportamento que podem ser utilizadas a favor do educador como os procedimentos de reforçamento, os estudos sobre controle coercitivo, procedimento e efeitos colaterais da punição, controle de estÃmulos, equivalência, análise de contingências entre outros procedimentos facilitadores do processo de ensino-aprendizagem. Alguns educadores têm como forma de ensinar um método de passar conhecimento e esperam que com isso os alunos o absorvam sem considerar que cada organismo é diferente e portanto precisa de ritmos, espaços, estratégias e tempos diferentes para aprender. Tal método que basicamente força o individuo a decorar aquilo que lhe é passado não é uma estratégia de ensino inteligente já que não é baseada em reforçamento positivo e sim em controle aversivo.  E como nos diz SIDMAN (1995), a coerção gera estados de contra controle e de fuga esquiva alem de estimular respostas alternativas as esperadas.
Skinner brilhantemente fecha a questão de forçar o estudante a aprender por métodos coercitivos quando diz: “Você não pode impor felicidade. Você em ultima instancia, não pode impor coisa alguma. Nós não usamos a força! Tudo que precisamos é de uma engenharia comportamental adequada. (Skinner, 1948, p149)â€
Referencias:
1. HÜBNER, M. M. C. . O Skinner que poucos conhecem: contribuições do autor para um mundo melhor, com ênfase na relação professor- aluno. Momento do Professor (UAM. Impresso), São Paulo, v. 2, n. 4, p. 44-49, 2005.
2.   Skinner, Burrhus Frederic – Ciência e Comportamento Humano – 11° Edição 2003
3. HÜBNER, M. M. C. Analisando a relação professor-aluno: do planejamento à sala de aula. 2. ed. São Paulo: CLR-Balieiros, 1998.
4. Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas, SP: Editorial Psy.
5. CALDAS, R. F.; HÜBNER, M. M. C. O desencantamento com o aprender na escola: o que dizem alunos e professores. Psicologia: teoria e prática, 2000.
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