Alunos meus e leitores do blog parecem dividir um mesmo interesse: Terapia Comportamental. Devido a isso, decidi escrever uma série de textos sobre o tema. Eis como será estruturada a série:
- Terapia Comportamental – Breve Introdução
- Terapia Comportamental – PrincÃpios Fundamentais
- Terapia Comportamental – Análise Funcional – avaliação
- Terapia Comportamental – Análise Funcional – intervenção
- Terapia Comportamental – Relação Terapêutica
Uma breve introdução à Terapia Comportamental
A Terapia Comportamental é comumente dividida em três gerações, ou três ondas.
Primeira onda
A primeira onda foi marcada por técnicas de modificação do comportamento fundamentadas em experimentos básicos. Geralmente, os terapeutas realizavam uma investigação dos problemas do cliente e plenejavam a intervenção de forma a eliminar os problemas identificados. A terapia era focada em aspectos observáveis e, portanto, mensuráveis do comportamento.
Os profissionais da primeira onda (como Eysenck e Wolpe) uniram, pela primeira vez, ciência e terapia. Seu objetivo era desenvolver uma abordagem de bases experimentais e, portanto, inequivocamente eficiente. O movimento comportamental surgiu como uma crÃtica e uma rejeição ao subjetivismo dominante na psicologia clÃnica. Focando apenas em comportamentos mensuráveis, era possÃvel demonstrar com clareza os efeitos produzidos pelas técnicas terapêuticas.
Muitas crÃticas pertinentes foram feitas a esse método terapêutico. A maior delas foi a de que ignorando a subjetividade dos clientes, o terapeuta não podia realizar um trabalho integral. Dizendo de outro modo: tratar apenas comportamentos observáveis não produzia uma verdadeira mudança no comportamento total do cliente. Essas crÃticas deram origem à segunda onda.
Segunda onda
A segunda onda foi marcada pela revolução cognitiva, que originou a terapia cognitivo-comportamental (TCC). O modelo surgiu com Aaron Beck e sua terapia cognitiva para depressão, mas se espalhou rapidamente, tornando-se uma das maiores forças da psicoterapia. A terapia cognitivo-comportamental continua em franca expansão, sendo um modelo terapêutico largamente investigado. Os resultados dessas investigações demonstram a eficiência da TCC para uma grande diversidade de problemas psicológicos.
O principal foco de interesse da TCC é o pensamento do cliente. Afirma-se que os problemas psicológicos acontecem quando o indivÃduo tem crenças e pensamentos insalubres que o fazem interpretar o mundo de maneira incorreta. Essa avaliação enviesada do mundo provoca sofrimento e impede que o cliente obtenha prazer ou descubra maneiras alternativas e mais saudáveis de se comportar. O terapeuta procura mostrar ao cliente a origem das suas crenças e pensamentos inadequados e, por meio de uma série de técnicas, ajuda o cliente a questionar a validade dessas crenças e pensamentos. O objetivo do terapeuta é, em poucas palavras, modificar a estrutura cognitiva do cliente. Somada à s técnicas de mudança cognitiva, algumas tarefas de modificação do comportamento são também utilizadas.
A ênfase demasiada ao pensamento é frequentemente criticada pelos terapeutas comportamentais, segundo os quais não é necessário recorrer à cognição para explicar as atividades humanas. Para os analistas do comportamento, os terapeutas cognitivo-comportamentais pecam por dar importância especial à cognição, como algo separado do comportamento. Defendem que a cognição é também comportamento e que, portanto, a ênfase da terapia deve ser a relação do indivÃduo com seu ambiente: aà incluindo eventos privados (como pensamentos e sentimentos) e públicos.
Terceira onda
A terceira onda, e atual, é um retorno a e uma evolução das idéias da primeira onda. Mantém-se a postura cientÃfica e as idéias behavioristas radicais, mas são propostas novas formas de compreender o processo terapêutico. Há três principais novidades trazidas pela nova terapia comportamental. Para iniciar, em consonância com a filosofia behaviorista radical, a cognição continua a ser estudada, mas deixa de constituir entidade explicativa, sendo compreendida como relação entre indivÃduo e ambiente (comportamento). Ou seja, os terapeutas voltam a enfatizar o ambiente como produtor e produto das ações humanas.
A segunda novidade é a perspectiva contextualista e funcional. Cada comportamento é compreendido dentro do contexto especÃfico em que ocorre e de acordo com a função que exerce. Essa perspectiva permite uma interpretação clÃnica que vai além das aparências, chegando à raÃz dos eventos que mantêm e controlam o comportamento. Produz uma ferramenta de análise em que se reconhece a particularidade dos indivÃduos. Cada pessoa passa por uma avaliação singular, e suas dificuldades são compreendidas de forma integrada dentro do quadro maior de sua história de vida e contextos atuais.
Finalmente, a terceira novidade trazida pela terceira onda da terapia comportamental é seu foco na relação terapêutica. Pode-se dividir isso em duas caracterÃsticas: (1) teoria e prática sobre a importância da relação terapêutica em si, e (2) sugestões de como o terapeuta deve se comportar para atingir sucesso. Ambas essas caracterÃsticas estão relacionadas com uma perspectiva humana em psicologia clÃnica. Para os novos profissionais, importa não apenas o comportamento do cliente, mas também o comportamento do próprio terapeuta. Em poucas palavras, a terceira onda mostra que o sucesso terapêutico ocorre na relação humana, e não em verbalizações unilaterais.
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No próximo texto, vou discutir alguns princÃpios fundamentais da terapia comportamental. Todos os textos serão baseados na teoria e prática da terceira onda de terapia.
Enquanto não publico novidades, recomendo este texto sobre a relação humana em terapia.
Robson Faggiani
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