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Terapia Comportamental – Análise Funcional – intervenção

No último texto falei sobre a análise funcional do ponto de vista da avaliação psicológica. Agora vou comentar sobre como o processo de avaliação fundamenta as bases da intervenção em terapia comportamental.

Para começar, um aviso. Seria mais correto mudar o título deste texto para “Mudanças de Contingências” no lugar de “Análise Funcional – Intervenção”. Preferi manter o presente título porque as mudanças de contingências são constamente avaliadas do ponto de vista funcional.

seattle counseling

Intervindo no Comportamento

Após a análise funcional, passamos a ter hipóteses sobre como e por que ocorre o comportamento-problema do cliente. O próximo passo é realizar a intervenção. Há algumas maneiras de fazer isso:

1. Modificando o ambiente
De acordo com os princípios comportamentais, a principal fonte de controle do comportamento é o ambiente. A melhor forma de intervir em terapia comportamental, portanto, seria realizar alterações no cotidiano da pessoa que procura ajuda. Infelizmente, o terapeuta não tem acesso a tudo que acontece ao cliente.

De forma brilhante, a Psicoterapia Analítica-Funcional (FAP) sugeriu uma solução para esse problema: utilizar a semelhança funcional entre os ambientes de dentro e fora do consultório e tentar reproduzir na sessão terapêutica as situações causadoras do sofrimento do cliente. Dessa forma, o ambiente poderia ser mudado ao vivo, enquanto os comportamentos-problema do cliente ocorressem.

Ainda que a solução proposta pela FAP seja excelente e aplicável em várias situações, está longe de solucionar a dificuldade em acessar o cotidiano do cliente. Há, no entanto, outros meios de intervir no comportamento.

2. Modificando regras.
Regras são declarações verbais acerca do funcionamento do ambiente e do comportamento. Desde a infância, somos acostumados por nossos pais, professores e amigos a atentar e seguir instruções verbais. Aprendemos a descrever o mundo e o modo como agimos. Essas descrições afetam nosso comportamento. É comum, infelizmente, que muitas dessas regras sejam inadequadas e produzam comportamentos inapropriados.  Já falei sobre esse assunto neste texto.

Dada a importância das declarações verbais, o terapeuta comportamental pode, como parte de sua intervenção clínica, ajudar o cliente a analisar a pertinência de suas regras e a avaliar se é possível criar regras mais apropriadas. Aqui cabe deixar claro que o terapeuta não muda as regras do cliente: apenas ajuda o cliente a mudar suas próprias regras.

3. Autoconhecimento e autocontrole
Um objetivo fundamental do terapeuta comportamental é ajudar o cliente a compreender e controlar o próprio comportamento, possibilitando a ele pensar sobre seus problemas e encontrar a melhor forma de resolvê-los mesmo depois de terminado o trabalho terapêutico. É possível afirmar que, de modo geral, todas as perguntas do terapeuta têm, em última análise, a função de promover autoconhecimento. Algumas vezes, no entanto, algumas ações específicas são executadas, como pedidos de auto-registro, lições de casa, etc. Outra possibilidade é analisar o comportamento do cliente e mostrar como esse processo é feito, ou seja, dando modelos aos clientes sobre como fazê-lo.

Uma pessoa capaz de compreender a si mesma e a manipular o próprio comportamento, provavelmente não terá problemas que não pode resolver. A tarefa de ajudar o cliente no processo de auto-descoberta é provavelmente a tarefa mais nobre da psicoterapia.

4. Terapia fora da clínica
Alguns clientes podem se beneficiar muito de sessões terapêuticas no ‘mundo real’, especialmente aqueles com problemas de ansiedade, depressão e fobia. Um cliente tímido, por exemplo, que treina como falar com pessoas do ‘mundo real’ com a supervisão do terapeuta tem a possibilidade de apresentar uma melhora muito mais rápida do que um treino social apenas na clínica.

A terapia fora da clínica é uma ferramenta relativamente moderna de intervenção e com resultados muito promissores. Particularmente, posso dizer que os meus clientes gostaram muito das experiências no ‘mundo real’. Essa forma de intervenção é uma ótima maneira de driblar o problema da falta de acesso do terapeuta ao cotidiano do cliente.

Outra forma de fazer terapia fora da clínica é com o auxílio de acompanhantes terapêuticos. O objetivo dos acompanhantes é funcionar como uma extensão da terapia no ‘mundo real’. Assim como descrito acima, o trabalho do acompanhante produz resultados muito satisfatórios na resolução dos comportamentos-problema.

5. Participação familiar
Para terminar, é válido comentar a importância da participação da família na psicoterapia. Familiares ajudam de duas formas: além de serem a base emocional do cliente, potencializam as intervenções terapêuticas. O terapeuta hábil em facilitar trocas emocionais entre clientes e familiares tem uma importante forma de intervenção à sua disposição.

Além da familiares, outras pessoas importantes da vida do cliente podem ajudar, como namorados (as), colegas de quarto, etc. O trabalho em comunhão produz resultados espantosos.

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Independentemente da forma de intervenção utilizada, todo terapeuta comportamental é guiado pela idéia de ajudar o cliente a descobrir sobre si mesmo e a mudar seus comportamentos que causam sofrimento. Como será visto em textos posteriores, o terapeuta comportamental utiliza procedimentos de intervenção baseados em descobertas científicas e lida com cada cliente de forma única e particular. Esse cuidado com a individualidade do cliente, ao mesmo tempo em que se analisa seu contexto social, é a pedra angular da terapia comportamental.

No próximo texto da série, vou discutir sobre a Relação Terapêutica para a terapia comportamental. Até lá.

Robson Brino Faggiani

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2 Responses

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  1. Bárbara said

    Bom dia, Faggiani! Sou estudante de Psicologia e estou desenvolvendo um trabalho sobre tricotilomania. Gostaria que você me apontasse algumas técnicas em análise do comportamento para trabalhar esta patologia na clínica. Desde já agradeço sua colaboração. Abraço.

  2. K. Rosa said

    Olá! Li 02 artigos e gostei muito. Sou advogada e frequentemente lido com situações de conflito, nos quais identifico que há questões comportamentais e até da personalidade por trás. Por vezes, tento intermediar os conflitos, facilitando o diálogo entre as partes, por vezes tento demonstrar à pessoa que a raiz do problema jurídico está numa questão bem pessoal e de relacionar-se. Em suma: acabo aconselhando, mas procuro fazer com muuuuuiiiiiiiito cuidado, pois sinto que não sou profissional da área e, por isso, não quero fazer mais um “estrago” na vida da pessoa. O que o senhor acha sobre isso? Deveria ler mais a respeito e obter mais informações para ajudar estas pessoas? Ou só ouvir os relatos de conflitos, cuidar da prática jurídica somente e encaminhá-la para tratamento clínico? Sem estudar Psicologia, é possível aprender coisas básicas que poderia utilizar e aplicar sem prejudicar as pessoas?

    Muito obrigada pela atenção!

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