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O que é Psicoterapia Analítica Funcional?

Neste post, transcrevo uma parte do primeiro capítulo do livro sobre PAF publicado em 2009, traduzido por mim. Gostaria de lembrar que a lei brasileira esclarece que a pubicação em mídia de partes de artigos informativos não consitutui ofença aos direitos autorais desde que mencionadas as fontes da publicação e o nome do autor.

PAFPor começar a ler este livro, imaginamos que você esteja intelectualmente curioso e ansioso para ampliar suas habilidades terapêuticas. Você já deve ter experiência em utilizar Psicoterapia Analítica Funcional (PAF) e agora busca por um aprofundamento, ou este pode ser apenas o seu primeiro contato. Se você não tem certeza do que a PAF se trata, deve estar esperando por uma definição comportamental precisa, ou deve estar procurando por uma resposta que fale com você de forma mais intuitiva. Este livro foi concebido de forma consistente com a abordagem comportamental, porém acreditamos que não exista uma intervenção terapêutica ou uma teoria básica que seja absoluta, contextualmente independente ou “melhor” por definição. Aliás, o “melhor” sempre depende do que alguém quer alcançar. A PAF é uma terapia idiossincrática que é vivenciada de forma diferente entre aqueles que têm aprendido, praticado, recebido, pesquisado, ensinado e/ou escrito sobre ela. Então, começaremos com um banquete destas experiências. Esperamos que alguma delas faça mover o seu interior.

1) Uma cliente

Uma cliente vinha lutando contra os sintomas de Transtorno de Estresse Pós Traumático em seguidas experiências negativas com profissionais de saúde renomados. Consistentemente com a literatura sobre TEPT, ela possuía uma vulnerabilidade anterior que explicava a intensidade incomum e a severidade dos seus sintomas. Sua história incluía abandono na infância, falta de cuidado pelas pessoas em quem confiava e a morte de familiares próximos. Segue uma transcrição retirada de um e-mail no qual ela descreve as reações à sessão de terapia com RJK realizada poucos dias antes.

Você sempre pede por associações livres e esta manhã eu acordei às 6:30 farta disso. Então, aqui vai. Por que, eu fico me perguntando, você [RJK] insiste tanto neste caminho ‘perverso’, onde primeiro me encoraja a me apegar a você (ostensivamente), ao mesmo tempo que fica falando sobre o encerramento de nossa terapia e, suponho, sobre outros encerramentos também? Em que tipo de trégua impensável, eu ainda fico imaginando, Freud e os Behavioristas se sentariam na mesma mesa para tomar chá? Bem, me ocorreu que você esteja utilizando apego terapêutico/transferência na terapia de dessensibilização/exposição. Você está me pedindo para permanecer, uma e outra vez, sobre a ponte da minha zona de conforto, onde uma pessoa está “conscientemente” apegada, confiando em você, sendo eu mesma de verdade, amortecendo nosso encerramento, a cada vez que me deleito com nossas sessões.  ‘Terapia de Exposição Transferencial’, hein?

2) Um estudante de graduação

A PAF me impele a me esticar e crescer, a ser teoricamente consistente e consistente com valores em todos os aspectos da minha vida. A PAF me desafia a ver a terapia pelos olhos do cliente, a me comprometer com a auto-introspecção e a analisar cuidadosamente a mim mesmo e as minhas interações.

3) Um terapeuta cognitivo-comportamental

Aprender sobre como ‘estar’ em uma relação terapêutica tem sido um das mais valiosas idéias que a PAF tem me dado para ‘levar pra casa’. Agora eu acho que a maior parte do tempo que trabalho com um cliente, estou consciente do meu ‘ser’ e me concentro com a finalidade de estar plenamente presente – o que tem se mostrado um processo poderoso, mesmo quando desconfortável. Tenho sido impactado de forma profunda, tanto profissionalmente como pessoalmente. Estou muito mais alerta aos meus padrões de esquiva. Tenho me aproximado do desejo de conectar o meu eu pessoal ao eu profissional de forma mais real, mais humana e mais presente. Aprender PAF tem sido uma força curativa e crescente na minha vida e a tem enriquecido imensamente. Esta experiência está sendo renovadora.

4) Um terapeuta comportamental-dialético

PAF se trata de viver plenamente enquanto se experimenta emoções, aceitando tantos riscos quanto nossos pacientes, ansiando por transformar o mundo, buscando alívio para o sofrimento enquanto seguimos em direção ao amor e à capacidade de amar. Eu realmente gosto desta combinação de criatividade, expansão de fronteiras, intensidade, encontros existenciais e uma técnica terapêutica poderosa.

5) Co-autor do livro

A PAF é uma psicoterapia interpessoalmente orientada destinada a aliviar os problemas do cliente que trata fundamentalmente de relações humanas. O sofrimento humano pode acontecer na presença ou na ausência de pessoas. Ainda que a dor emocional sentida pelos clientes venha da falta de conexões significativas. O que faz a PAF única é o uso de princípios comportamentais básicos, como modelagem contingente e o uso do reforçamento na sessão de terapia. O coração da PAF é a hipótese de que o mecanismo de mudança na clínica se dá pelo responder contingente do terapeuta ao problema do cliente, ao vivo, na sessão, enquanto ele ocorre.

6) Co-autor do livro

A PAF utiliza princípios comportamentais para criar um espaço sagrado repleto de consciência, coragem e amor, onde a relação terapêutica é o veiculo primário para a cura e a transformação do cliente. A PAF modela a eficácia interpessoal nutrindo as habilidades do cliente de falar e agir de modo sensível às suas verdades e dons, de dedicar-se à intimidade e de dar e receber amor em plenitude.

Nós originalmente desenvolvemos a PAF (Kolenberg & Tsai, 1991) para explicar porque alguns de nossos clientes que recebiam a TCC padrão demonstravam uma transformação rápida e marcante em suas vidas, muito além daquilo que normalmente era esperado para o tratamento. Cada um destes casos inesquecíveis envolveu a ocorrência natural, e particularmente intensa, de uma relação terapeuta-cliente envolvente e emocional. Nós procuramos explicar tais relações terapeuta-cliente por meio de uma análise behaviorista radical (Skinner, 1945, 1953, 1957, 1974) do processo psicoterapêutico, realçada na história de cada caso.

Certamente, a noção de que a relação terapeuta-cliente ocupa um papel central na produção de mudança é inerente à literatura de psicoterapia e possui um suporte empírico considerável (veja o Capítulo 2). Nossa intenção ao utilizar os conceitos behavioristas radicais no entendimento deste fenômeno era prover uma nova perspectiva sobre a forma como a relação terapeuta-cliente contribui para os ganhos terapêuticos. Nós utilizamos uma abordagem “de cima para baixo”, que começava pelas observações clínicas de intervenções terapêuticas e seus efeitos, para então utilizar os conceitos comportamentais na explicação de tais efeitos. Nós também utilizamos uma abordagem “de baixo para cima”, aplicando conceitos comportamentais juntamente com contribuições experimentais e teóricas para informar, modelar e refinar as intervenções terapêuticas. A PAF que é praticada hoje reflete mais de duas décadas deste processo interativo.

Uma vantagem central da abordagem comportamental incorporada à PAF é que ela realça mecanismos hipotéticos de mudança que, por sua vez, podem ser utilizados em manuais de tratamento específicos que são facilmente ensináveis. Os conceitos e definições comportamentais permitem que os terapeutas disponham de um amplo leque de mecanismos terapêuticos significativos, tais como ‘coragem’, ‘amor terapêutico’, e ‘criação de um espaço sagrado’ (veja Capítulo 4), o que em geral não é feito nas terapias cognitivo-comportamentais. Trazer esta coragem e este amor pra dentro da relação com os clientes é um processo difícil que faz com que os terapeutas rumem em direção às pontes de suas zonas de conforto – o que freqüentemente evoca esquiva emocional. Nós também escolhemos o behaviorismo para facilitar com que os terapeutas aceitassem riscos de forma responsável e ética em benefício de seus clientes.

Autotes: Robert J. Kohlenberg, Mavis Tsai e Jonathan W. Kanter
Fonte: Tsai, M; Kohlenberg, R. J.; Jonathan, W. K.; Kohlenberg, B.; Follette, W. & Callaghan, G. M. A Guide to Functional Analytic Psychoterapy. Awareness, courage, love and behaviorism. New York: Springer.

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4 Responses

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  1. Vamir said

    Peço explicações claras para marca uma conslta ao meu filho.
    O Psiquiatra o indicou a procurar um especialista em psicologia analítica profunda. Ode procurar um especialista nessa área? O que vem a ser isso?

    Vamir

  2. Veronica said

    Eu queria saber se algum tipo de terapia alternativa pode ser tão eficaz quanto a psicoterapia analítica, porque na cidade onde moro não há um terapeuta que trabalhe com esse método, então estou perdida.

  3. Filipe said

    Na verdade, PAF é uma cópia mal feita do conceito psicanalítico de transferência. Essa teoria é só um plágio.

  4. Mariana said

    Dessa forma seria um plágio mais eficiente, então a psicanálise deveria rever sua prática a partir de seu próprio plágio, para aprender a não manter as pessoas por anos no divã.

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